Noite de sábado. A promessa consistia em bons petiscos, a terminar com uma sopa caramela (bem típica da região), regados pelos vinhos da casa DUPÓ e por um recital de guitarra portuguesa.
Fui com um amigo, que me havia convidado, e com a filha. Na adega, juntámo-nos a outros convivas que não conhecia, mas que abrilhantaram a noite pela simpatia e bom espirito.
O início da noite na casa DUPÓ, ocorreu com um conjunto de explicações sobre as vinhas e o processo na adega.
As explicações foram interessantes, mas insuficientes. Gosto de ver no produtor, um espirito de contributo para a região e para o país. Gosto de perceber o trabalho que está a fazer com as castas, a explicação de como projeta os lotes, o que quer dos vinhos, qual é a direção. Nesta casa não vi isso, e faltando esse entusiasmo, essa curiosidade, esse espirito de aventura, pensei imediatamente que tudo o resto seria penosamente desinteressante.
Sentámo-nos à mesa, e começamos a ser brindados com uma táboa de queijos e enchidos que cumpriram a sua missão com muita dignidade. Mais à frente, iniciava-se o recital de guitarra portuguesa que nos iria conduzir numa viagem sobre alguns dos mais importantes mestres deste belíssimo, e tão português, instrumento.
O cenário era perfeito: Uma companhia de excelência, uma boa táboa para petiscar e um recital muito bem construído e interpretado dentro de uma adega que parecia talhada para o evento.
Aparentemente estavam reunidas as condições para uma noite magnifica e, não fosse o vinho, tudo tinha sido bom.
Na palestra inicial, o produtor havia indicado que não são uma casa de brancos e que a produção incide mais nos tintos. Bebemos três brancos sendo que dois deles não estavam rotulados. O primeiro era um monovarietal de arinto. Foi o pior arinto que bebi na minha vida: Álcool a mais, demasiado doce, demasiado fruta. Meus ricos arintos de Bucelas, meus amados arintos de Lisboa, que bem vos quero arintos da Bairrada! Que maltratada foi esta digníssima casta por um produtor da minha região. Corei de vergonha!
Dos brancos que se seguiram a história não rezará.
Nos tintos foi diferente. Bebemos um DUPÓ 2017 Reserva que, não sendo um grande vinho, também não escandalizou. Pelo que percebi o PVP rondará os 8€, o que me parece caro para o que apresenta, mas já bebi pior e não reclamei. De seguida veio um Syrah, e a história é mais ou menos a mesma: não é bom nem mau, antes pelo contrário.
É que tinha para mim o vinho como uma bebida mágica, e que em contextos favoráveis se pode transformar um mau vinho num bom vinho, porque estamos rodeados de boa gente, boa música e boa comida. Aprendi que isto pode não ser verdade, e esta aprendizagem foi a vitória da noite.
Fico triste que, na região onde resido, a fasquia esteja tão baixa. Temos excelentes exemplos de sucesso, como a Herdade dos Pegos Claros (tão perto da casa DUPÓ) e é incompreensível porque se continuam a fazer coisas fraquinhas e desinteressantes. É preciso mudar e é preciso vontade para mudar.
Desta noite resultaram experiências extremas: A maravilhosa história contida no dedilhar da guitarra portuguesa, e o pior arinto de todos os tempos. Valeu a música, valeu a amizade e valeu aquela sopa caramela, que estava de outro mundo!
Deixo-vos o tema da noite: Verdes Anos de Carlos Paredes (Neste caso com a interpretação do saudoso Carlos Paredes)
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